A troca de hostilidades entre argentinos e britânicos começou em 1833, não acabou com a guerra de 1982 e não vai sair de moda tão cedo. A disputa pela soberania sempre foi uma questão de Estado para os governos argentinos, militares ou não. A alegação da proximidade geográfica, bem como a herança das ilhas que pertenciam à Espanha (que, por sua vez, as comprou dos franceses, em 1766) é a base da reivindicação. Os argumentos não são aceitos pelos britânicos, que se aferram à posse do território pela precedência histórica da ocupação (a mesma tese utilizada na disputa com o Brasil pela Guiana). Convém ressaltar que nenhum dos dois países já solicitou um arbitramento internacional.
E o Brasil na questão? Em 1982, o
governo militar brasileiro também foi surpreendido pela intempestiva
invasão decretada pelo general Leopoldo Galtieri. O presidente
brasileiro, general João Baptista Figueiredo, usou poucas palavras: "Não
avalizamos atos de loucura." O Brasil proibiu os britânicos de utilizar
seu território para reabastecimento de aviões ou navios militares e
cedeu aos argentinos três aeronaves da Embraer para reconhecimento
marítimo. Também advertiu o Reino Unido de que uma invasão ao território
continental da Argentina teria desdobramentos, pois poderia levar à
união dos países sul-americanos e, talvez, a outras participações no
conflito.
Ao contrário da suposta certeza de
que os britânicos não iriam a uma guerra no Atlântico Sul, a
primeira-ministra Margaret Thatcher mandou uma esquadra e uma aviação
modernas às ilhas. O blefe argentino desabou em dois meses. Depois dos
combates, os britânicos contabilizaram 258 soldados mortos e 777
feridos; os argentinos, 649 mortos, 1.008 feridos e 11.313 prisioneiros.
A ditadura argentina acabaria sendo levada de roldão pela derrota. Três
dias após a rendição, em 14 de junho de 1982, Galtieri renunciou.
Desde então, o Brasil vem adotando,
com moderação, o princípio da solidariedade com o país vizinho. Junto
com as nações do Mercosul, passou a respeitar o nome Malvinas para
designar o arquipélago. Em dezembro de 2011, os países do bloco
econômico concordaram em proibir que barcos com a bandeira das Falklands
atraquem em seus portos. Os kelpers dão de ombros e afirmam que isso
não tem a menor importância: é só trocar a bandeira dos navios pela
britânica e tudo volta ao normal. No entanto, o arquipélago não esconde o
temor de que, no futuro, o boicote aos navios vire um bloqueio
comercial.
Para um kelper, especular sobre uma
possível troca de nacionalidade é uma provocação. A resposta vem
acompanhada de um olhar diferente, um esgar ou pela frase estampada em
várias janelas de Port Stanley, muito repetida aos estrangeiros:
“Argentinos, vocês são bem-vindos em nossa ilha; mas respeitem nosso
direito de escolher nossos soberanos.”http://www.terra.com.br/revistaplaneta/edicoes/476/artigo258141-2.htm
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