Hervé Kempf deu Conferência em Lisboa
2010-11-20
Por Susana Lage (texto e fotos)
O capitalismo assume que as tecnologias permitem enfrentar o aquecimento global e a crise da biodiversidade. Infelizmente, embora a técnica seja útil para uma economia menos destruidora do meio ambiente, não é suficiente para inverter a situação.
Hervé Kempf, escritor ecologista e jornalista de Le Monde deu uma conferência ontem, no Instituto Franco-Português, em Lisboa. Segundo Kempf, a questão ambiental ganhou influência nos últimos anos, desde o acidente de Chernobyl, que mostrou a magnitude das consequências que desastres ambientais poderiam ter.
No campo político, a questão das mudanças climáticas é obrigatória para todo o Ocidente e muitas vezes torna-se uma questão importante noutros países também. O escritor defende, numa das suas obras mais recentes, «Para Salvar o Planeta Livrem-se do Capitalismo» (2009), precisamente o que o título sugere.
Para salvar o planeta devemos descartar-nos do capitalismo e reconstruir uma sociedade onde a economia não seja soberana, mas um instrumento. Onde predomine a cooperação sobre a concorrência, e onde o bem comum seja mais importante do que o lucro. O futuro não reside na tecnologia, mas num novo arranjo das relações sociais.
Diferentes formas de progresso
O jornalista francês propõe uma reflexão colectiva sobre como o capitalismo se transformou ao longo dos anos de 1980 ao conseguir impor o modelo comportamental individualista, marginalizando as lógicas colectivas. A oligarquia no poder procura desviar a atenção do público para o desastre iminente fazendo crer que a tecnologia pode fazer tudo, inclusive evitá-lo.
Esta ilusão não pretende nada mais do que conservar o sistema de dominação actual. Mas «o futuro não está na tecnologia, está nas novas práticas no relacionamento social entre indivíduos e grupos», é a mensagem veiculada por Kempf. O escritor acredita que a convicção e a celeridade com que exigirmos maior solidariedade humana é o que vai fazer a diferença daqui para a frente.
Pela primeira vez na história da nossa espécie «enfrentamos os limites da biosfera». Kempf aformou também: «Temos de encontrar diferentes formas de progresso» da humanidade, mas «a classe dominante predatória recusa as mudanças necessárias». E mais acrescentou: «A sociedade não tem sido capaz de combater eficazmente a expansão da crise ecológica porque está intimamente ligada à crise social na qual a forma de gerir o capitalismo impede iniciativas democráticas».
Por esta razão, «a resolução da crise ecológica depende da interrupção no poder da elite do mundo».
Da conferência resultou não ser possível compreender a ligação entre a crise ecológica e a social se não forem vistas como as duas facetas do mesmo desastre. Como argumentou o jornalista, este desastre resulta de um sistema comandado por um estrato social dominante que não tem outra conduta para além da ganância, não tem outros ideais para além do conservacionismo, não sonha com nada mais para além da tecnologia. No entanto, o escritor sublinha que apesar da dimensão dos desafios que nos esperam, «as soluções estão a surgir» e «o desejo de refazer o mundo está a renascer».