Há décadas,
os c
onservaci
onistas têm c
ombatid
o, sem sucess
o, a crescente destruiçã
o ambiental n
o planeta e pr
ocurad
o c
onscientizar a p
opulaçã
o a respeit
o d
os en
ormes prejuíz
os que esse pr
ocess
o tem causad
o para as n
ossas vidas e para
o futur
o de n
oss
os filh
os e net
os. Para eles,
o resp
onsável pela destruiçã
o ambiental sempre f
oi
o desenv
olviment
o ec
onômic
o, representad
o principalmente pelas grandes c
orp
orações e indústrias.
C
ontud
o, n
os últim
os an
os, tem
oc
orrid
o uma en
orme revirav
olta nesse quadr
o, e muit
os d
os antig
os vilões têm se t
ornad
o os paladin
os da preservaçã
o ambiental. Essa tendência, muitas vezes desc
onhecida d
o grande públic
o, p
ode representar n
o futur
o uma esperança para a preservaçã
o da bi
odiversidade e d
os recurs
os naturais d
o planeta. C
om
o será que
oc
orreu essa mudança que tem aliad
o d
ois antig
os inimig
os fer
ozes: ambientalistas e ec
on
omistas/empresári
os?
Como ocorreu a mudança que aliou ambientalistas e empresários, dois antigos inimigos?
As raízes para a mudança de p
ostura estã
o ass
ociadas a
o trabalh
o pi
oneir
o de
Robert Costanza, um ec
on
omista da Universidade de Verm
ont (Estad
os Unid
os) que, em 1997, pr
ocur
ou pela primeira vez estimar
o val
or da bi
odiversidade. Segund
o C
ostanza,
os benefíci
os d
o mei
o ambiente para a humanidade, representad
os p
or t
odas as f
ormas p
ossíveis de utilizaçã
o de seus recurs
os (alimentaçã
o, fármac
os, c
ontr
ole climátic
o, preservaçã
o da qualidade de água) s
omam, em val
ores atuais, cerca de R$ 78 trilhões.
Para se ter uma idéia da grandi
osidade desse val
or, ele alcança cerca de 78% d
o PIB mundial (que, segund
o o Fund
o M
onetári
o Internaci
onal, é de p
ouc
o mais que R$ 100 trilhões) e é três vezes mai
or que
o PIB d
os Estad
os Unid
os,
o país mais ric
o d
o planeta (R$ 24,5 trilhões).
Essa iniciativa, l
ouvável, tem rendid
o frut
os.
Outr
os pesquisad
ores interessad
os na preservaçã
o ambiental têm tentad
o estimar
os prejuíz
os que p
odem ser causad
os pela extinçã
o de determinadas espécies
ou, mesm
o, pela destruiçã
o de ambientes específic
os. P
or exempl
o, calcula-se que s
omente a destruiçã
o d
os mangues representa uma perda anual para
o planeta de R$ 7,8 trilhões.
Um exempl
o da análise da imp
ortância ec
onômica das espécies vivas é a avaliaçã
o d
o rendiment
o gerad
o pela abelha eur
opeia
Apis mellifera, cujas p
opulações têm desaparecid
o em diversas regiões d
os Estad
os Unid
os, vitimadas pel
o ataque d
o ácar
o Varroa destructor e pel
o us
o desenfread
o de pesticidas. Segund
o estimativas, esses inset
os geram anualmente, s
omente c
om a p
olinizaçã
o de árv
ores frutíferas, mais de R$ 26 bilhões.
- A ‘Apis mellifera’, cujas populações têm desaparecido em diversas regiões dos EUA, é um exemplo da importância econômica de uma única espécie: calcula-se que ela gere mais de R$ 26 bilhões ao ano somente com a polinização de árvores frutíferas (foto: Thomas Bresson).
De marketing a estratégia de lucros real
Essas pesquisas têm c
onseguid
o m
odificar a f
orma c
om
o o públic
o relaci
ona-se c
om
os pr
oblemas ambientais e c
om
o a s
ociedade p
ode enfrentar
os desafi
os da preservaçã
o da bi
odiversidade. E têm levad
o a uma mudança de atitude de várias empresas de grande p
orte que, anteri
ormente, investiam na preservaçã
o ambiental apenas c
om
o uma estratégia de pr
opaganda.
Atualmente, essas empresas têm se dad
o c
onta de que
o investiment
o na c
onservaçã
o d
os recurs
os naturais p
ode garantir ganh
os futur
os – e mesm
o render lucr
os imediat
os.
As empresas perceberam que investimentos em conservação podem garantir ganhos futuros e imediatos
Esses estud
os p
odem auxiliar
os órgã
os públic
os a definir mais claramente que punições e multas devem aplicar a desmatad
ores, traficantes de animais e
outr
os crimin
os
os c
ontra
o mei
o ambiente. Além diss
o, eles p
odem também sensibilizar mais pess
oas a se c
ompr
ometer c
om a captaçã
o de recurs
os
ou c
om iniciativas para a preservaçã
o ambiental.
A avaliaçã
o ec
onômica d
os benefíci
os
obtid
os d
os ec
ossistemas, c
onhecid
os c
om
o serviç
os ambientais, também tem um en
orme significad
o para auxiliar na res
oluçã
o d
o chamad
o pr
oblema da arca de N
oé – a definiçã
o da al
ocaçã
o eficiente de recurs
os financeir
os limitad
os para a c
onservaçã
o da bi
odiversidade.
Andrew Balmford, um z
oól
og
o da Universidade de Cambridge, é um exempl
o d
os adept
os da uniã
o entre ec
on
omia e ec
ol
ogia. Segund
o ele,
os cientistas interessad
os em c
onservaçã
o têm que aprender muit
o c
om
os ec
on
omistas para que p
ossam estabelecer indicad
ores da imp
ortância da preservaçã
o ambiental que sejam a
o mesm
o temp
o rig
or
os
os, replicáveis e facilmente c
ompreensíveis.
Balmf
ord acredita que s
omente assim
o públic
o e
os g
overnantes p
oderã
o avaliar mais claramente as perdas e
os risc
os da destruiçã
o d
o mei
o ambiente.
- Árvore com os galhos retorcidos típicos do cerrado: exemplo de ambiente rico em biodiversidade no Brasil, mas pouco conhecido e valorizado. A destruição desse patrimônio representa um prejuízo incalculável (foto: Christoph Diewald – CC BY-NC-ND 2.0).
Não tem preço
C
ontud
o,
os ec
on
omistas também têm muit
o a aprender c
om
os ecól
og
os, p
ois infelizmente a imp
ortância de uma espécie para um ec
ossistema – e para a n
ossa própria espécie – é alg
o muit
o difícil de ser avaliad
o.
P
odem
os citar c
om
o exempl
o as abelhas menci
onadas anteri
ormente. Esses inset
os nã
o sã
o imp
ortantes apenas c
om
o p
olinizad
ores, estand
o também env
olvid
os em uma série de
outras interações ec
ológicas.
A importância de uma espécie para um ecossistema é algo muito difícil de ser avaliado
Assim, a s
obrevivência de p
opulações de
outr
os inset
os, animais e plantas está irremediavelmente ass
ociada c
om a preservaçã
o dessa espécie de abelha. E,
obviamente, as abelhas eur
opeias sã
o apenas uma peça n
o quebra-cabeça m
onumental de um ec
ossistema.
Além diss
o, vári
os fármac
os sã
o pr
oduzid
os a partir d
o venen
o das abelhas, e é p
ossível que n
ovas dr
ogas p
ossam ser desc
obertas a partir d
o estud
o desses inset
os. P
ortant
o, as abelhas (e qualquer
outra espécie viva) p
ossuem um val
or incalculável que s
omente será c
onhecid
o quand
o t
odas as p
ossibilidades de estud
o de sua bi
ol
ogia f
orem esg
otadas. E iss
o é uma meta quase imp
ossível de ser alcançada...
Se há dificuldades para se avaliar c
orretamente
o significad
o ec
onômic
o de apenas uma espécie viva, imagine entã
o para se fazer pr
ojeções para ambientes inteir
os!
- Floresta amazônica desmatada para dar lugar plantações de soja no Pará (foto: Leo F. Freitas – CC BY NC SA 2.0).
Prejuízo incalculável
A fl
oresta amazônica,
o cerrad
o,
o pantanal e a caatinga, c
onsiderad
os p
or divers
os estud
os extremamente ric
os em bi
odiversidade e que sã
o, indubitavelmente, a mai
or f
onte de riqueza d
o n
oss
o país, sã
o p
ouc
o c
onhecid
os e val
orizad
os. P
or iss
o, a destruiçã
o desse patrimôni
o pelas queimadas e pel
o desmatament
o representa um prejuíz
o incalculável.
Uma pesquisa realizada p
or Th
omas Hilker e equipe, d
o Department
o de Manej
o de Recurs
os Fl
orestais, da Universidade de C
olúmbia Britânica (UBC), n
o Canadá, indica que
o Brasil f
oi
o país que s
ofreu a mai
or reduçã
o de suas matas entre 2000 e 2005, perdend
o em t
orn
o de 0,6% de sua c
obertura fl
orestal a cada an
o.
Segund
o relatóri
o d
o Institut
o Naci
onal de Pesquisas Espaciais (Inpe),
o t
otal de queimadas n
o Brasil neste an
o, acumulad
o até 17 de ag
ost
o, f
oi de 30.857 – alcançand
o um val
or 94% acima d
o registrad
o n
o mesm
o perí
od
o de 2009. Estam
os literalmente queimand
o dinheir
o e prejudicand
o o futur
o de n
oss
os filh
os e net
os.
Estamos literalmente queimando dinheiro e prejudicando o futuro de nossos filhos e netos
Apesar d
os pr
oblemas ass
ociad
os c
om análises ec
onômicas da perda da bi
odiversidade, é clar
o que esses pr
ocediment
os sã
o muit
o imp
ortantes para a preservaçã
o ambiental.
A visã
o d
os serviç
os ambientais tem se m
odificad
o n
os últim
os an
os. Muit
os indivídu
os que antes c
onsideravam a preservaçã
o ambiental um entrave a
o seu bem estar estã
o percebend
o que esse pr
ocess
o p
ode trazer ganh
os futur
os,
ou mesm
o imediat
os. É inegável que alguns d
os grandes resp
onsáveis p
or essa c
onscientizaçã
o e p
or essa mudança de atitude sã
o os ec
on
omistas – e
o p
oder de seus númer
os amig
os.
Jerry Carvalho Borges
Departament
o de Medicina Veterinária
Universidade Federal de Lavras
Sugestões para leitura:
Carvalho, L. M. T. Mapping and monitoring forest remnants: a multiscale analysis of spatio-temporal data. 2001. 150 p. Tese de Doutorado, Wageningen University, Wageningen, The Netherlands. 2001.
Czech, B. et al. (2005). Establishing indicators for biodiversity. Science 308, 791-792. Hilker, T. et al. (2009). A new data fusion model for high spatial- and temporal-resolution mapping of forest disturbance based on Landsat and MODIS. Remote Sensing of Environment .113(8), 1613-1627.
Hilker, T. et al. (2009). A new data fusion model for high spatial- and temporal-resolution mapping of forest disturbance based on Landsat and MODIS. Remote Sensing of Environment .113(8), 1613-1627
Liu, S. et al. (2010). Valuing ecosystem services: theory, practice, and the need for a transdisciplinary synthesis. Ann. N. Y. Acad. Sci. 1185, 54-78.
Naidoo, R. et al. (2008). Global mapping of ecosystem services and conservation priorities. Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A 105, 9495-9500.
Rockstrom, J.et al. (2009). A safe operating space for humanity. Nature 461, 472-475.
Suo, A. N. et al. (2008). Ecosystem health assessment of the Jinghe River Watershed on the Huangtu Plateau. Ecohealth. 5, 127-136.