Ano da BIODIVERSIDADE: Países fecham acordo para proteger biodiversidade e dividir ganhos - BBC

Eric Brücher Camara

Incêndio na Bolívia
Destruição ambiental custa entre US$ 2 bi e US$ 5 bi por ano, diz estudo
Representantes de mais de 190 países reunidos em Nagoia, no Japão, aprovaram nesta sexta-feira um acordo histórico que, se implementado, deve combater ameaças à biodiversidade até 2020 e dividir melhor os recursos obtidos pela exploração do material genético da natureza.
As principais decisões finais do 10º encontro da convenção da ONU sobre diversidade biológica (CBD, na sigla em inglês) são um protocolo sobre como dividir os benefícios representados pela biodiversidade (em inglês, Access and Benefits Sharing, ou ABS) e um plano de ação para proteger as espécies ameaçadas até 2020.
Ambos podem render muito ao Brasil. A estimativa é de que países ricos abram os cofres até 2012 para garantir cerca de US$ 200 bilhões por ano em investimentos de conservação na biodiversidade. A verba deve ser liberada a tempo para a segunda Cúpula da Terra, a ser realizada em 2012 no Rio de Janeiro.
Ainda não está claro, entretanto, de onde essa verba deve sair, uma vez que muitos países ricos se encontram em crise e já se comprometeram em dezembro do ano passado a levantar cerca de US$ 100 bilhões por ano para combater os efeitos das mudanças climáticas.
Os signatários têm agora um prazo de dois anos para estabelecer como o novo financiamento será feito.
Biopirataria
O valor da biodiversidade de cada país também deve entrar nas contas públicas, de forma a possibilitar os cálculos que vão nortear os investimentos internacionais.
Esta medida foi considerada um grande avanço, já que pela primeira vez atrela a diversidade biológica da natureza à economia.
Já o chamado ABS é fundamental para proteger os países da chamada biopirataria, o registro feito por indústrias como as farmacêuticas – na sua maioria com sede em países desenvolvidos – de substâncias retiradas de seres encontrados em outras regiões.
O acordo fechado nesta sexta-feira prevê o pagamento de royalties por propriedade intelectual aos países de origem do material.
Com isso, países como o Brasil - que vinha defendendo um entendimento nesse sentido - e outros donos de imensa biodiversidade poderão lucrar com o desenvolvimento de medicamentos obtidos a partir de plantas e animais locais.
Depois de intensas negociações, principalmente sobre ABS, o acordo foi elogiado por ambientalistas.
"O protocolo de Nagoia é uma conquista histórica, que garante que o valor muitas vezes imenso dos recursos genéticos seja mais justamente dividido", disse Jim Leape, diretor-geral da organização ambientalista WWF.
Entre as decisões de Nagoia também está uma meta de proteção de 17% das áreas em terra firme, que até 2010 estava em 13%.
Os ministros de meio ambiente concordaram ainda em proteger 10% das áreas marinhas e costeiras, entre elas o alto mar.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Ano da Biodiversidade: Tigres podem estar extintos em 12 anos, adverte WWF

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DA FRANCE PRESSE
Os tigres podem estar extintos em 12 anos, mas um encontro de alto nível na Rússia, no próximo mês, poderá reverter o declínio da população destes animais, anunciou nesta quinta-feira a organização ambientalista Fundo Mundial para a Natureza (WWF).
"O pior cenário é aquele no qual os tigres podem estar extintos quando entrarmos no próximo ano do tigre, em 12 anos", disse Ola Jennersten, diretor do programa de preservação internacional da WWF sueca.
Secretário-geral da ONU diz que mundo não freia ritmo de extinção de animais e vegetais
A organização lidera uma campanha global para tentar dobrar o número de tigres até 2022, quando começará o próximo ano do tigre.
O WWF informou que no último século, a caça ilegal, a redução do hábitat e o comércio de partes de tigre utilizadas na medicina oriental fizeram o número de grandes felinos cair, em todo o mundo, 97%, diminuindo sua população para 3.200 indivíduos, atualmente.
"Apesar dos números pessimistas, a situação é mais esperançosa do que nunca", disse Jennersten, enaltecendo a iniciativa política dos 13 'estados tigres' e de diferentes entidades de se encontrar na Rússia de 21 a 24 de novembro a fim de deter uma possível extinção da espécie.
"Isto será alcançado com um maior envolvimento político, concentrado em áreas para tigres, que têm a maior chance de garantir a conservação a longo prazo dos animais, e um controle maior sobre o comércio" ligado aos felinos, afirmou.
Espera-se que o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, que no passado deu demonstrações de seu amor pela natureza, beijando animais publicamente e exibindo-se em uma série de peripécias na natureza, algumas envolvendo tigres, participe da conferência, em São Petersburgo.
Segundo a WWF, 1.800 tigres vivem na Índia, no Nepal, no Butão e em Bangladesh; 450, em Sumatra, 400 na Malásia, 350 estão espalhados em todo o sudeste asiático e 450 vivem, em habitat natural, na Rússia.

"Boom" econômico na Ásia coloca pássaros aquáticos em perigo, diz estudo

DA FRANCE PRESSE
As populações de pássaros aquáticos estão diminuindo mais rapidamente na Ásia do que em outras partes do mundo devido ao forte crescimento econômico e à urbanização, que destroem seu habitat, segundo um estudo divulgado por ocasião da décima Conferência das Partes da Convenção da Organização das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (COP-10).
O meio ambiente para os pássaros aquáticos no mundo é de pouca qualidade, o que provocou um declive em várias espécies ao longo de três décadas até 2005, indica este estudo da Wetlands International.

A situação melhorou na Europa e na América de Norte graças a uma legislação severa. Em compensação, 62% do conjunto de espécies de pássaros aquáticos na Ásia diminuiu ou desapareceu.
"A combinação de um crescimento econômico rápido e poucos esforços de converavação parece ser fatal", enfatiza a Wetlands International.
"As populações de pássaros aquáticos devem enfrentar várias ameaças, como o desaparecimento ou degradação de pântanos e lagos, a intensificação da agricultura, da caça e da mudança climática", acrescenta.
O aquecimento climático representa um perigo extra para os pássaros aquáticos porque afetará o Ártico, onde se reproduzem muitas espécies.
As zonas úmidas da tundra ártica vão perder superfície, um verdadeiro perigo para os pássaros da África do Sul, Austrália ou América do Sul que vão se reproduzir lá, segundo o estudo.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Fumaça de queimadas na Indonésia prejudica países vizinhos


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DA REUTERS
Queimadas ilegais na ilha de Sumatra, na Indonésia, estão espalhando uma nuvem de fumaça para as vizinhas Malásia e Cingapura, causando a pior poluição atmosférica na região desde 2006, disseram autoridades nesta quinta-feira.
Apesar das promessas governamentais de controlar os incêndios, a névoa obrigou a Malásia a alertar navios para a baixa visibilidade no estreito de Málaca, em torno de 3 km, e escolas tiveram de ser fechadas.
Às 18h desta quinta-feira (8h em Brasília), o índice de poluentes em Cingapura chegou a 108, nível considerado "insalubre" --bem acima dos 80 registrados ontem (20), que havia sido o pior desde 2006. O porto e o aeroporto da cidade-nação continuam operando normalmente.

Vivek Prakash/Reuters
Fotos mostram o distrito financeiro de Cingapura há um mês (acima) e hoje, encoberta por fumaça da Indonésia
Fotos mostram o distrito financeiro de Cingapura há um mês (acima) e hoje, encoberta por fumaça da Indonésia
"A suspeita é que isso está vindo das florestas que têm sido derrubadas para plantações. Achamos que pode ser para a plantação de dendezeiros", disse à Reuters Purwasto Saroprayogi, diretor do departamento de incêndios fundiários e florestais no Ministério do Meio Ambiente indonésio.
HISTÓRICO
A Indonésia tem um longo histórico de desmatamento florestal descontrolado, e muitas queimadas servem para dar espaço a plantações de palmeira de cujos frutos se extrai o dendê, um importante biocombustível.
As queimadas limpam a área rapidamente e reduzem a acidez do solo, mas liberam enormes quantidades de gases do efeito estufa.
A névoa volta à região menos de uma semana depois de ministros do Meio Ambiente do Sudeste Asiático se reunirem em Brunei para discutir a questão das queimadas.
"Não é a primeira vez que informamos os indonésios de que eles deveriam prestar atenção a áreas delicadas em Sumatra e Bornéu", disse a jornalistas ontem o ministro do Meio Ambiente de Cingapura, Yaacob Ibrahim.
Segundo ele, se a situação se agravar o país "vai registrar suas preocupações novamente, talvez até em termos mais fortes, aos colegas indonésios". Ele afirmou que seria possível realizar outra reunião para discutir "novas medidas".
Em Kuala Lumpur, o vice-premiê da Malásia, Muhyiddin Yassin, disse à imprensa que seu país está buscando "mais cooperação" com a Indonésia no combate às queimadas.
"Não estamos simplesmente acusando (a Indonésia), queremos uma ação antes que a névoa se espalhe e se torne mais prejudicial para a Malásia", disse ele.
A pior névoa na região ocorreu em 1997-98, quando uma seca causada pelo fenômeno El Niño facilitou os incêndios florestais. A fumaça chegou a Malásia, Filipinas, Cingapura e Tailândia e causou prejuízos superiores a US$ 9 bilhões para o turismo, os transportes e a agricultura.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

WWF: brasileiros não notam importância da natureza para vida - TERRA

Uma pergunta feita pela ONG WWF Brasil à população constatou que a maioria dos brasileiros não se lembra da importância do meio ambiente para a preservação da vida quando a indagação é feita aleatoriamente. A indagação "o que você precisa para viver?" gerou, majoritariamente, respostas como: amor, família, amigos, sol e saúde.
A iniciativa faz parte da campanha cujo lema é Cuidar da Natureza é Cuidar da Vida, lançada nesta semana pela ONG. Para o coordenador do Programa para a Água Doce da WWF Brasil, Samuel Barreto, as respostas revelam a importância de conscientizar a população sobre o papel do meio ambiente na preservação da vida. "A ausência da natureza nesse tipo de preocupação mostra a necessidade de colocar esse debate junto com a opinião pública e criar esse mecanismo de sensibilização".
Ele destacou que o engajamento do cidadão tem uma relação direta com a questão do consumo. "Porque os nossos hábitos de vida trazem impactos sobre o meio ambiente. É aquilo que a gente chama de 'nossa pegada ecológica'. Isso também chama para uma reflexão sobre o nosso modo de vida, sobre a questão de conscientização, sobre a parte de consumo responsável, alertando para as consequências que o descuido com a natureza pode provocar".
Entre elas, Barreto citou a redução da biodiversidade e de serviços ecológicos, como clima e água. Na campanha, a WWF Brasil está propondo ao governo a criação de unidades de conservação em todos os biomas, "como uma forma efetiva de você garantir a manutenção dessa diversidade biológica".
Os principais focos da ONG são a Reserva Extrativista Baixo Rio Branco, em Jauaperi (Amazonas); Parque Nacional dos Lavrados (Roraima); Parque Nacional Chapada dos Veadeiros (Goiás); Parque Nacional Boqueirão da Onça (Bahia) e outras unidades no Cerrado do Amapá, no Tabuleiro do Embaubal (Pará), no Croa (Acre), no extremo Sudoeste do Pantanal e em Bertioga, São Paulo.
Próximo presidente
Segundo Barreto, a proposta será levada ao futuro governante do país. "É uma campanha de mobilização e também de contribuição para o próprio governo, uma vez que ele se comprometeu na Convenção da Biodiversidade das Nações Unidas a garantir a proteção de um percentual de biomas do Brasil".
A sugestão feita pela WWF Brasil é para que as metas assumidas pelo Brasil sejam cumpridas ainda este ano. "Então, é para o atual governo, mas pode continuar para os demais". De acordo com o coordenador, o objetivo é apoiar a lista prioritária de unidades de conservação do governo.
A entidade propõe ainda que políticas públicas busquem o uso sustentável dos recursos e prevejam atividades turísticas realizadas de forma coordenada em unidades de conservação, que podem resultar na geração de emprego e movimentar a economia local.
A campanha, que terá desdobramentos envolvendo, por exemplo, a questão da segurança alimentar, foi considerada bem-vinda pelo diretor de Florestas da Secretaria da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA), João de Deus Medeiros. Ele afirmou que o movimento "dá uma sinalização clara de setores da sociedade que entendem a importância desses investimentos".

WWF propõe ao Brasil 10 novas áreas de UCs - O Globo

O Globo
A WWF acaba de lançar a campanha “Cuidar da natureza é cuidar da vida”, cujo objetivo é alertar a população para as consequências que o descuido com a natureza pode provocar. A principal ação da campanha, lançada esta semana, foi a divulgação de uma lista com 10 áreas prioritárias para a criação de novas unidades de conservação na Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal. A ideia com a lista, segundo o release enviado por e-mail, é que ainda este ano o governo brasileiro alcance as metas de cobertura natural protegida por unidades de conservação estabelecidas pela Convenção sobre Diversidade Biológica da Organização das Nações Unidas (CDB). Hoje, o Brasil tem o compromisso de garantir a cobertura de 10% de cada bioma, tomando por base a área original, criando unidades de conservação. Na Amazônia o compromisso é de 30%.

Constam da lista as seguintes áreas: Reserva Extrativista Baixo Rio Branco – Jauaperi (Amazonas), o Parque Nacional dos Lavrados (Roraima), o Parque Nacional Chapada dos Veadeiros (Goiás), o Parque Nacional Boqueirão da Onça (Bahia) e outras unidades no Cerrado do Amapá, no Tabuleiro do Embaubal (Pará), no Croa (Acre), no extremo Sudoeste do Pantanal e em Bertioga, São Paulo. No âmbito da CDB, o governo brasileiro se comprometeu a garantir a cobertura, por unidades de conservação, de 10% em cada bioma (conforme a área original) e de 30% na Amazônia. Hoje, somando todas as unidades existentes no País, ainda resta proteger aproximadamente 2,5% do território nacional em área terrestre e 8,5% em área marinha.

Mais de 1 bilhão de pessoas passam fome no mundo, diz estudo - BBC

Crianças são alimentadas em Guatemala
Estudo considera 'séria' a situação alimentar na Guatemala
Um estudo do Instituto Internacional de Investigação sobre Políticas Alimentares (IFPRI, na sigla em inglês) divulgado nesta segunda-feira indica que ao menos 1 bilhão de pessoas (cerca de um sétimo da população mundial) sofrem de desnutrição no planeta.
Na América Latina, a situação é considerada “grave” na Bolívia, Guatemala e no Haiti.
A pesquisa, intitulada Índice Global da Fome 2010, mostra que a fome se revela principalmente por meio da desnutrição infantil – quase a metade dos afetados são crianças. Os níveis mais altos se encontram na África Subsaariana e no sul da Ásia.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Segurança Alimentar (FAO), um ser humano passa fome quando consome menos de 1.800 quilocalorias por dia, o mínimo para levar uma vida saudável e produtiva.
Os dados do estudo apontam que o número de desnutridos voltou a crescer, após cair entre 1990 e 2006. A explicação é a crise econômica e o aumento nos preços globais dos alimentos.
O IFPRI considera a situação “extremamente alarmante” em três países, todos africanos (Chad, Eritreia e República Democrática do Congo). Outros 26 países vivem situação “alarmante”.
No continente americano, a Bolívia, a Guatemala e o Haiti têm os piores índices em relação à falta de alimentos.
O documento classifica de “moderada” a fome no resto da América Central, com a exceção da Costa Rica. Também é “moderada” a situação na maioria da América do Sul – já no Brasil, Uruguai, Argentina e Chile há níveis baixos de desnutrição, segundo o informe.
‘Caso de sucesso’
Os pesquisadores classificam o Brasil como um “caso de sucesso” na questão da fome. Segundo o estudo, entre 1974 e 1975, 37% das crianças brasileiras eram subnutridas. O índice caiu para 7% entre 2006 e 2007, melhora atribuída aos aumentos nos investimentos em programas de nutrição, saúde e educação ocorridos desde o fim dos anos 70.
“Entre 1996 e 2007, muito da melhora na nutrição infantil se deveu a mais creches, rendas familiares maiores, melhoras no atendimento de mães e crianças e maior cobertura de suprimento de água e serviços sanitários”, diz o estudo, que também cita o Bolsa Família, avaliado como “um bem-sucedido programa de redução da pobreza que integra nutrição, saúde e metas de educação”.
“Esse programa, assim como outras políticas governamentais, também tiveram um grande papel em reduzir a desigualdade, fazendo com que o status nutricional de crianças pobres rapidamente se aproximasse do de crianças mais ricas”, afirma o documento.
Fome em crescimento
Apesar do avanço em países como Brasil e China, o estudo mostra que a fome cresceu em nove países (oito deles na África Subsaariana e a Coreia do Norte).
O país com o pior desempenho é a República Democrática do Congo, onde o índice cresceu 65%. Em Burundi e em Madagascar, metade das crianças têm problemas no seu desenvolvimento físico por falta de uma dieta adequada.
Para a pesquisadora Marie Ruel, uma das autoras do estudo, “a janela de oportunidade para evitar que sigam crescendo os níveis de desnutrição está nos dois anos (...). Depois dos dois anos de idade, os efeitos negativos da desnutrição são em grande parte irreversíveis.”
Segundo o informe, é possível reduzir a desnutrição infantil para um terço da atual melhorando os cuidados na saúde e na dieta não só de crianças como também de mães grávidas e na fase de amamentação.

sábado, 2 de outubro de 2010

O incrível poder dos números - CH


Proteger o planeta não é mais luta solitária de ambientalistas. Jerry Borges fala da virada que tornou empresas aliadas na conservação, e de como a associação de números à natureza ajuda a conscientizar sobre o que temos a ganhar – ou perder.
Por: Jerry Carvalho Borges
Publicado em 03/09/2010 | Atualizado em 03/09/2010
O incrível poder dos números
O valor da conservação: se antes atividades econômicas eram associadas à degradação do planeta, hoje empresas mudaram de atitude ao perceber o dinheiro que se queima com a destruição de ambientes ou espécies (arte: Henrik Jonsson/ iStockphoto).
Há décadas, os conservacionistas têm combatido, sem sucesso, a crescente destruição ambiental no planeta e procurado conscientizar a população a respeito dos enormes prejuízos que esse processo tem causado para as nossas vidas e para o futuro de nossos filhos e netos. Para eles, o responsável pela destruição ambiental sempre foi o desenvolvimento econômico, representado principalmente pelas grandes corporações e indústrias.
Contudo, nos últimos anos, tem ocorrido uma enorme reviravolta nesse quadro, e muitos dos antigos vilões têm se tornado os paladinos da preservação ambiental. Essa tendência, muitas vezes desconhecida do grande público, pode representar no futuro uma esperança para a preservação da biodiversidade e dos recursos naturais do planeta. Como será que ocorreu essa mudança que tem aliado dois antigos inimigos ferozes: ambientalistas e economistas/empresários?
Como ocorreu a mudança que aliou ambientalistas e empresários, dois antigos inimigos?
As raízes para a mudança de postura estão associadas ao trabalho pioneiro de Robert Costanza, um economista da Universidade de Vermont (Estados Unidos) que, em 1997, procurou pela primeira vez estimar o valor da biodiversidade. Segundo Costanza, os benefícios do meio ambiente para a humanidade, representados por todas as formas possíveis de utilização de seus recursos (alimentação, fármacos, controle climático, preservação da qualidade de água) somam, em valores atuais, cerca de R$ 78 trilhões.
Para se ter uma idéia da grandiosidade desse valor, ele alcança cerca de 78% do PIB mundial (que, segundo o Fundo Monetário Internacional, é de pouco mais que R$ 100 trilhões) e é três vezes maior que o PIB dos Estados Unidos, o país mais rico do planeta (R$ 24,5 trilhões).
Essa iniciativa, louvável, tem rendido frutos. Outros pesquisadores interessados na preservação ambiental têm tentado estimar os prejuízos que podem ser causados pela extinção de determinadas espécies ou, mesmo, pela destruição de ambientes específicos. Por exemplo, calcula-se que somente a destruição dos mangues representa uma perda anual para o planeta de R$ 7,8 trilhões.
Um exemplo da análise da importância econômica das espécies vivas é a avaliação do rendimento gerado pela abelha europeia Apis mellifera, cujas populações têm desaparecido em diversas regiões dos Estados Unidos, vitimadas pelo ataque do ácaro Varroa destructor e pelo uso desenfreado de pesticidas. Segundo estimativas, esses insetos geram anualmente, somente com a polinização de árvores frutíferas, mais de R$ 26 bilhões.
Apis mellifera
A ‘Apis mellifera’, cujas populações têm desaparecido em diversas regiões dos EUA, é um exemplo da importância econômica de uma única espécie: calcula-se que ela gere mais de R$ 26 bilhões ao ano somente com a polinização de árvores frutíferas (foto: Thomas Bresson).

De marketing a estratégia de lucros real

Essas pesquisas têm conseguido modificar a forma como o público relaciona-se com os problemas ambientais e como a sociedade pode enfrentar os desafios da preservação da biodiversidade. E têm levado a uma mudança de atitude de várias empresas de grande porte que, anteriormente, investiam na preservação ambiental apenas como uma estratégia de propaganda.
Atualmente, essas empresas têm se dado conta de que o investimento na conservação dos recursos naturais pode garantir ganhos futuros – e mesmo render lucros imediatos.
As empresas perceberam que investimentos em conservação podem garantir ganhos futuros e imediatos
Esses estudos podem auxiliar os órgãos públicos a definir mais claramente que punições e multas devem aplicar a desmatadores, traficantes de animais e outros criminosos contra o meio ambiente. Além disso, eles podem também sensibilizar mais pessoas a se comprometer com a captação de recursos ou com iniciativas para a preservação ambiental.
A avaliação econômica dos benefícios obtidos dos ecossistemas, conhecidos como serviços ambientais, também tem um enorme significado para auxiliar na resolução do chamado problema da arca de Noé – a definição da alocação eficiente de recursos financeiros limitados para a conservação da biodiversidade.
Andrew Balmford, um zoólogo da Universidade de Cambridge, é um exemplo dos adeptos da união entre economia e ecologia. Segundo ele, os cientistas interessados em conservação têm que aprender muito com os economistas para que possam estabelecer indicadores da importância da preservação ambiental que sejam ao mesmo tempo rigorosos, replicáveis e facilmente compreensíveis.
Balmford acredita que somente assim o público e os governantes poderão avaliar mais claramente as perdas e os riscos da destruição do meio ambiente.
Árvore retorcida
Árvore com os galhos retorcidos típicos do cerrado: exemplo de ambiente rico em biodiversidade no Brasil, mas pouco conhecido e valorizado. A destruição desse patrimônio representa um prejuízo incalculável (foto: Christoph Diewald – CC BY-NC-ND 2.0).

o tem preço

Contudo, os economistas também têm muito a aprender com os ecólogos, pois infelizmente a importância de uma espécie para um ecossistema – e para a nossa própria espécie – é algo muito difícil de ser avaliado.
Podemos citar como exemplo as abelhas mencionadas anteriormente. Esses insetos nãoo importantes apenas como polinizadores, estando também envolvidos em uma série de outras interações ecológicas.
A importância de uma espécie para um ecossistema é algo muito difícil de ser avaliado
Assim, a sobrevivência de populações de outros insetos, animais e plantas está irremediavelmente associada com a preservação dessa espécie de abelha. E, obviamente, as abelhas europeias são apenas uma peça no quebra-cabeça monumental de um ecossistema.
Além disso, vários fármacos são produzidos a partir do veneno das abelhas, e é possível que novas drogas possam ser descobertas a partir do estudo desses insetos. Portanto, as abelhas (e qualquer outra espécie viva) possuem um valor incalculável que somente será conhecido quando todas as possibilidades de estudo de sua biologia forem esgotadas. E isso é uma meta quase impossível de ser alcançada...
Se há dificuldades para se avaliar corretamente o significado econômico de apenas uma espécie viva, imagine então para se fazer projeções para ambientes inteiros!
Amazônia desmatada
Floresta amazônica desmatada para dar lugar plantações de soja no Pará (foto: Leo F. Freitas – CC BY NC SA 2.0).

Prejuízo incalculável

A floresta amazônica, o cerrado, o pantanal e a caatinga, considerados por diversos estudos extremamente ricos em biodiversidade e que são, indubitavelmente, a maior fonte de riqueza do nosso país, são pouco conhecidos e valorizados. Por isso, a destruição desse patrimônio pelas queimadas e pelo desmatamento representa um prejuízo incalculável.
Uma pesquisa realizada por Thomas Hilker e equipe, do Departmento de Manejo de Recursos Florestais, da Universidade de Colúmbia Britânica (UBC), no Canadá, indica que o Brasil foi o país que sofreu a maior redução de suas matas entre 2000 e 2005, perdendo em torno de 0,6% de sua cobertura florestal a cada ano.
Segundo relatório do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o total de queimadas no Brasil neste ano, acumulado até 17 de agosto, foi de 30.857 – alcançando um valor 94% acima do registrado no mesmo período de 2009. Estamos literalmente queimando dinheiro e prejudicando o futuro de nossos filhos e netos.
Estamos literalmente queimando dinheiro e prejudicando o futuro de nossos filhos e netos
Apesar dos problemas associados com análises econômicas da perda da biodiversidade, é claro que esses procedimentos são muito importantes para a preservação ambiental.
A visão dos serviços ambientais tem se modificado nos últimos anos. Muitos indivíduos que antes consideravam a preservação ambiental um entrave ao seu bem estar estão percebendo que esse processo pode trazer ganhos futuros, ou mesmo imediatos. É inegável que alguns dos grandes responsáveis por essa conscientização e por essa mudança de atitude são os economistas – e o poder de seus números amigos.

Jerry Carvalho Borges
Departamento de Medicina Veterinária
Universidade Federal de Lavras

Sugestões para leitura:

Carvalho, L. M. T. Mapping and monitoring forest remnants: a multiscale analysis of spatio-temporal data. 2001. 150 p. Tese de Doutorado, Wageningen University, Wageningen, The Netherlands. 2001.

Czech, B. et al. (2005). Establishing indicators for biodiversity. Science 308, 791-792. Hilker, T. et al. (2009). A new data fusion model for high spatial- and temporal-resolution mapping of forest disturbance based on Landsat and MODIS. Remote Sensing of Environment .113(8), 1613-1627.

Hilker, T. et al. (2009). A new data fusion model for high spatial- and temporal-resolution mapping of forest disturbance based on Landsat and MODIS. Remote Sensing of Environment .113(8), 1613-1627

Liu, S. et al. (2010). Valuing ecosystem services: theory, practice, and the need for a transdisciplinary synthesis. Ann. N. Y. Acad. Sci. 1185, 54-78.

Naidoo, R. et al. (2008). Global mapping of ecosystem services and conservation priorities. Proc. Natl. Acad. Sci. U. S. A 105, 9495-9500.

Rockstrom, J.et al. (2009). A safe operating space for humanity. Nature 461, 472-475.

Suo, A. N. et al. (2008). Ecosystem health assessment of the Jinghe River Watershed on the Huangtu Plateau. Ecohealth. 5, 127-136.