domingo, 4 de abril de 2010

Paquistão ameaça fazer ferver a disputa pela água com a Índia

Financial 
Times
James Lamont
New Déli (Índia)
Líderes paquistaneses colocaram a questão dos recursos hídricos como um dos principais motivos de rivalidade de Islamabad com a Índia, numa atitude que poderá politizar um assunto extremamente delicado nesta região propensa à seca.
Nova Déli teme que a água do Himalaia possa se tornar uma nova disputa populista, da mesma forma que o território da Caxemira, localizado entre os dois rivais nucleares que lutaram três guerras ao longo dos últimos 63 anos.
“Há um esforço coordenado no Paquistão para criar outra questão anti-Índia que possa capturar a imaginação popular no país”, diz um alto funcionário indiano. “Eles estão criando um 'vilão indiano'”, assustando as pessoas com a falta de água, disse outro.
O Paquistão alega que a Índia não honrou um tratado de 1960, negociado com a ajuda do Banco Mundial, sobre o uso dos sistemas fluviais compartilhados pelos dois países, afirmando que os projetos hidrelétricos da Índia estão reduzindo o fluxo de água no sistema fluvial.
Autoridades indianas insistem que Nova Déli não violou o tratado e atribui a falta d'água no Paquistão ao mau gerenciamento e à má divisão do recurso entre as províncias do país.
“A questão da água é um assunto ilegítimo que serve apenas para perpetuar a animosidade da população paquistanesa em relação à Índia”, diz K. Subrahmanyam, analista de defesa indiano. “O terrorismo jihadista parecerá ainda mais justificável para um paquistanês por conta da questão da água do que pela Caxemira”.
Yusuf Raza Gilani, primeiro-ministro paquistanês, colocou a água no mesmo patamar que a questão da Caxemira numa entrevista ao Financial Times este mês. “Queremos que o mundo se concentre para que a Índia resolva conosco questões essenciais como Jammu e Caxemira e a água”, disse ele.
O general Ashfaq Kiyani, comandante do Exército paquistanês, fez observações semelhantes num discurso no mês passado, e participou de uma delegação enviada a Washington que levantou a questão com autoridades norte-americanas na semana passada.
As autoridades indianas estão particularmente alarmadas com o fato de que líderes de grupos militantes como o Lashkar-e-Taiba e seu afiliado, Jamaat-ud-Dawa, tenham adotado a questão da água.
O Jamaat-ud-Dawa alega que as províncias de Punjab e Sindh no Paquistão estão enfrentando uma desertificação por causa das represas indianas e do desvio da água. Enquanto fazendeiros protestavam em Lahore este mês, o grupo acusou a Índia de declarar uma guerra da água. “A Índia está tentando levar a cabo uma conspiração, tornando estéreis as terras agrárias do Paquistão e nos aniquilando economicamente”, afirmou.
Hafiz Saeed, fundador da Lashkar-e-Taiba, disse: “O governo precisa tomar medidas práticas para garantir a água paquistanesa. É uma questão de vida e morte para o Paquistão.”
Alguns analistas dizem que a mudança climática justifica a atualização dos tratados hídricos em todo o sul da Ásia. Eles alertam que os problemas com a água podem causar conflitos entre as populações que dependem dos sistemas hídricos alimentados pelas chuvas.
Os hidrologistas já são capazes de apontar quais regiões terão mais problemas com a água nos próximos anos. À medida que diminuiu a disponibilidade de água nos sistemas fluviais do Himalaia (que sustentam 1,3 bilhão de pessoas), os especialistas acreditam que aumentarão os atritos entre a Índia, Bangladesh e o Paquistão numa batalha pelos recursos hídricos.
Tradução: Eloise De Vylder

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.