sábado, 11 de setembro de 2010

A internet fecha suas fronteiras - Isto É Dinheiro

Artigo

A internet fecha suas fronteiras

Nº edição: 675 | 10.SET - 21:00 | Atualizado em 10.09 - 22:06

Governos e empresas privadas estão criando muros que ameaçam a liberdade e a universalidade da web

por Ralphe Manzoni Jr.
Em abril de 2009, os fundadores da BitTorrent, mais famosa rede de troca de arquivos da internet, foram sentenciados a passar um ano na cadeia por violação de direitos autorais e a pagar uma multa de US$ 3,59 milhões pela Justiça sueca.
Na época, Peter Sunde, um dos criadores do site, brincou. “Don’t worry – we’re from the internets. It’s going to be alright” (Não se preocupe, somos das internets. Tudo vai ficar o.k.), escreveu. 
 
A mensagem hoje é quase um sinal de clarividência. A internet, que é considerada a rede das redes, está se dividindo em várias fronteiras digitais diferentes, o que ameaça dois de seus princípios fundamentais: a liberdade e a universalidade.
 
As ameaças surgem de três frentes. A primeira é política. A China com o seu “Grande Firewall”, muralha tecnológica que impede os chineses de acessarem alguns sites e que filtra conteúdos considerados impróprios, impõe uma barreira ao livre acesso. 
 
Quando visitei o país, em abril, tentei navegar pelo Twitter, Facebook e YouTube. A resposta que recebia era de sites inexistentes, sem nenhum aviso prévio da censura a esses conteúdos. Para os chineses, eles simplesmente foram riscados do mapa. Outros países como Irã, Cuba, Arábia Saudita e Vietnã também têm algum controle sobre a rede.
 
Mas não são apenas os governos que fecham o cerco à internet. As empresas de telefonia, que operam as redes por onde os dados da internet circulam, ameaçam criar rodovias privilegiadas para aqueles provedores de conteúdos que pagarem por isso. 
 
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Imagine você tentando acessar o site de vídeos YouTube. Para chegar até ele, há dois caminhos. Um congestionado, no qual você demorará horas para atingir o seu destino. E outro livre, sem carros, mas com um pedágio no trajeto. 
 
Essa polêmica, que ganhou o nome de “neutralidade da internet”, é uma ameaça real nos Estados Unidos. O debate não demorará a chegar ao Brasil. Por fim, há as próprias empresas de internet, que estão construindo o que a revista britânica The Economist chamou de “jardins murados”. A Wired, uma das revistas mais influentes sobre cultura digital do mundo, cunhou o termo “economia dos aplicativos” e decretou o fim da web da forma como a conhecemos.
 
Observem o exemplo da Apple. Com o iPhone e o iPad, ela controla severamente o desenvolvimento dos programas que vão rodar em seus aparelhos. Não é mais preciso um browser para navegar pela internet. Tudo está dentro dos jardins de Steve Jobs. Até mesmo a rede social Facebook desenvolveu um programa interno de e-mail para os seus mais de 500 milhões de usuários cadastrados.
 
Em seu primeiro boom, há 15 anos, a internet foi considerada uma rodovia digital capaz de eliminar fronteiras, encurtar distâncias e facilitar e democratizar a transferência de informação e conhecimento. Atualmente, há quase dois bilhões de pessoas acessando a web no mundo, o que significa um em cada três habitantes da Terra. 
 
À medida que foi crescendo em importância, essa versão romântica e utópica da internet foi morrendo. Governos, empresas e companhias telefônicas querem cada vez mais controle sobre ela e estão criando não uma, mas várias internets. A web perde não só sua liberdade, mas, principalmente, o seu caráter universal.

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