Os dois modelos econômicos de sucesso relacionados aos recursos naturais
são o gás de xisto nos EUA e a agropecuária brasileira. É importante
analisarmos as razões desse sucesso e suas similaridades.
O óleo de xisto, impregnado no xisto betuminoso, tinha uma exploração
difícil, antieconômica e tecnologicamente complicada. O desenvolvimento
de um modelo de exploração viável só foi possível por característica
básica da estrutura fundiária americana: o proprietário do solo é o
proprietário dos recursos minerais do subsolo.
Isso fez com que milhares de proprietários se dedicassem a buscar
maneiras de exploração econômica daquela riqueza, envolvendo indivíduos e
empresas grandes, médias e pequenas, até que finalmente um cidadão
desenvolveu tecnologia viável.
Rapidamente, e de forma surpreendente, os EUA, que cada vez mais se
tornavam dependentes do petróleo do Oriente Médio como fonte de energia,
com consequências geopolíticas e econômicas importantes, conseguiram
aumento significativo da produção doméstica e caminham para a
autossuficiência, situação impensável alguns anos atrás.
Outra característica da economia americana também importante neste
processo é o fato de a construção de gasodutos no país ser uma
iniciativa privada, com licenciamento prático e veloz. Isso permitiu a
rápida construção de uma rede nacional de gasodutos com investimentos de
um número enorme de empresas e fundos.
Os EUA agora têm uma fonte de energia mais barata que as demais regiões
do mundo, viabilizando a volta da competitividade de indústrias que se
julgava terem definitivamente migrado para países em desenvolvimento,
como a petroquímica. Todas as indústrias intensivas de energia têm hoje
nos EUA vantagem competitiva relevante em função da energia abundante e
barata.
A agropecuária brasileira tem características semelhantes ao fenômeno do
gás de xisto. Em primeiro lugar, a propriedade privada da terra. A
escolha do que, quando e onde plantar também é privada, sendo projeto e
decisão de milhares de pequenos, médios e grandes empresários rurais. O
gargalo ainda a ser equacionado é o transporte da safra.
Como em muitos países, a ação governamental bem-sucedida ocorreu na
pesquisa tecnológica. A Embrapa é um exemplo disso. Seu desenvolvimento
de sementes, variedades de plantas e tratamento do solo foram
fundamentais para a revolução tecnológica no cerrado brasileiro.
São dois exemplos, nos EUA e no Brasil, que oferecem muitas lições sobre o desenvolvimento econômico e o papel dos governos.
Henrique Meirelles é presidente do Conselho da J&F (holding
brasileira que controla empresas como JBS, Flora e Eldorado) e chairman
do Lazard Americas. Ele foi presidente do Banco Central do Brasil de
2003 a 2010 e, antes disso, presidente global do FleetBoston e do
BankBoston.
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