Vários estudos científicos descobriram que a quantidade de açúcar que os norte-americanos consomem é um dos principais fatores responsáveis pela obesidade no país. Nos últimos 50 anos, o consumo de açúcares pelo norte-americano médio cresceu aproximadamente 11 quilos por ano, alargando as cinturas e tomando o lugar de alimentos mais nutritivos.
Além disso, os estudos indicam que o principal culpado tanto pelo aumento do açúcar quanto do peso dos norte-americanos tem sido o consumo cada vez maior de bebidas açucaradas, especialmente refrigerantes. Estes respondem por 7% das calorias que os norte-americanos consomem, tornando-se a principal fonte do excesso de açúcar e a maior fonte de calorias da dieta.
Os críticos costumam culpar principalmente o xarope de milho rico em frutose, o açúcar barato que ajudou a manter os preços dos refrigerantes baixos e permitiu que o consumo aumentasse. Mas na verdade, nenhuma bebida açucarada e nenhum adoçante calórico está isento de culpa. Nem o açúcar comum (que o metabolismo do corpo divide em 50% de glicose e 50% de frutose, a mesma composição do xarope de milho rico em frutose); nem o açúcar mascavo ou demerara; nem o mel; nem o xarope de agave; nem mesmo o suco de frutas concentrado.
Todos esses adoçantes, quando acrescentados às bebidas, contribuem principalmente com calorias “vazias” que não satisfazem o apetite e acabam se tornando excesso de energia que o corpo transforma em gordura. E o refrigerante, embora seja a bebida açucarada mais comum, não é o único responsável por isso. De fato, depois de décadas de aumento, o consumo de refrigerante se estabilizou, mas as bebidas isotônicas, energéticos e chás adoçados se tornaram fatores cada vez mais importantes no consumo de calorias líquidas dos norte-americanos.
Para melhorar a saúde de seus habitantes e dos cofres públicos, o Estado de Nova York, entre outros, está considerando um imposto de cerca de um centavo a cada uma onça líquida (28,4 mililitros) de bebidas açucaradas de alta caloria.
A Associação Norte-Americana de Bebidas, que é uma das principais responsáveis pela redução de 88% nas calorias dos refrigerantes nas escolas do país, prejudicou seriamente sua credibilidade com anúncios se opondo ao chamado imposto do refrigerante.
Em comerciais de rádio e televisão patrocinados pela associação, donas de casa defendem o argumento falso de que um imposto como este faria com que fosse mais difícil sustentar suas famílias.
Mas nenhum nutricionista lista os refrigerantes como um ingrediente desejável numa dieta. Eles não são alimento, nem uma necessidade básica. Na verdade, as pessoas que mais se beneficiarão com um imposto sobre os refrigerantes, que desencoraje seu consumo, são provavelmente aquelas que têm mais dificuldades financeiras. Elas são as mais prejudicadas ao gastar o pouco dinheiro que têm em calorias vazias que prejudicam sua saúde.
O risco dos refrigerantes
Quando eu era criança, a principal objeção dos pais em relação ao açúcar era que ele fazia mal aos dentes. Embora dentes estragados não sejam uma boa ideia, eles estão longe de ser uma ameaça à vida como hoje sabemos que são os riscos do consumo excessivo de açúcar, especialmente na forma líquida. Os riscos mais sérios são a diabete tipo 2 e as doenças do coração, tanto como uma conseqüência direta do peso extra quanto, no caso da doença cardíaca, como um risco independente.
Um estudo de Harvard que acompanhou 88 mil mulheres durante 24 anos descobriu que, independentemente do peso corporal, o risco de desenvolver doenças cardíacas era 20% maior entre aquelas que tomavam pelo menos duas bebidas açucaradas por dia, do que entre as que bebiam menos de uma bebida açucarada por mês. Dos 4 mil homens e mulheres que participaram do Framingham Heart Study durante quatro anos, os que bebiam pelo menos uma bebida açucarada (comparados àquelas que bebiam menos) tinham um risco 44% maior de desenvolver síndrome metabólica, um precursor da doença cardíaca. Aqui também o prejuízo à saúde independe do peso da pessoa.
A frutose, que representa metade do açúcar presente nos refrigerantes e outras bebidas adoçadas com xarope milho rico em frutose, aumenta os níveis de triglicérides depois das refeições e também promove um ganho de gordura abdominal, ambos fatores da síndrome metabólica.
Ainda assim, a maioria dos norte-americanos se preocupa mais com seu peso do que com os riscos à sua saúde a longo prazo. Estudos atrás de estudos mostraram que, assim como as cobaias, as pessoas não compensam o excesso de calorias líquidas comendo menos alimentos. Bebidas açucaradas não saciam o apetite, talvez porque sejam metabolizadas muito rapidamente.
Em outro estudo de Harvard que acompanhou 51 mil mulheres durante quatro anos, aquelas que aumentaram seu consumo de refrigerante de um por semana para pelo menos um por dia, ganharam mais peso. Como conseqüência, elas também passaram a ter quase o dobro do risco de desenvolver diabete do tipo 2.
A frutose nos refrigerantes pode até fazer com que as pessoas comam mais do que o necessário por causa de seu efeito sobre o hormônio leptina, que sinaliza ao cérebro que você está satisfeito. Nos estudos com animais, o alto consumo de frutose durante um período de meses resultou em resistência ao sinal da leptina. Um estudo preliminar em homens e mulheres obesos e com peso regular indicou que o mesmo acontece com os seres humanos.
Num artigo do “The New England Journal of Medicine” publicado no ano passado, Kelly D. Brownell, professor em Yale, e o doutor Thomas R. Frieden, diretor dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças, escreveu: “As bebidas açucaradas são divulgadas extensivamente para crianças e adolescentes, e em meados dos anos 90, o consumo de bebidas açucaradas pelas crianças ultrapassou o consumo de leite. Para cada lata ou copo de bebida açucarada consumida a mais por dia, a probabilidade de uma criança se tornar obesa aumenta 60%.”
Saúde e economia
Os autores citaram um estudo de Yale que indica que para cada 10% de aumento no preço, o consumo de refrigerante cai 7,8%. A indústria de refrigerantes estima uma queda ainda maior nas vendas: um declínio de 7,8% para cada 6,8% de aumento nos preços. É provável que esse declínio seja compensado pelo aumento das vendas de bebidas dietéticas e água engarrafada pelas mesmas companhias. Portanto, é improvável que um imposto sobre as bebidas açucaradas afete o emprego ou os lucros.
Acrescentar um imposto de um centavo por onça sobre as bebidas açucaradas poderia reduzir o consumo em mais de 10% e gerar uma arrecadação de US$ 1,2 bilhão (cerca de R$ 2,1 bilhões) só no Estado de Nova York, estimam os autores. Ao mesmo tempo, a queda resultante no consumo reduziria os riscos de saúde e economizaria dinheiro em custos médicos relacionados ao excesso de peso e à obesidade, cerca de metade dos quais são pagos por programas do governo, dizem eles.
“Uma pesquisa feita com os moradores de Nova York descobriu que 52% apoiavam o ‘imposto do refrigerante’, mas o número aumentou para 72% quando os moradores foram informados de que a arrecadação seria usada para a prevenção da obesidade”, escreveram. “Talvez a abordagem mais razoável seja usar a arrecadação para subsidiar a compra de alimentos saudáveis.”
Um imposto que pode aumentar a arrecadação, cortar o consumo de açúcar e aumentar o consumo de frutas e verduras? Não espanta que muitos nova-iorquinos gostem da idéia.
Tradução: Eloise De Vylder
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